segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Marcha mais Bonita da Cidade #marchadaliberdade

Esse video foi feito por um estudante independente, que estava na marcha da liberdade no último sábado. O grito da juventude espanhola contra um regime opressivo ecoa também nas ruas de São Paulo.

Por RevDoisPontoZero

"Eis a Marcha da Liberdade. Para todas as pessoas que não calam e que ainda acreditam na liberdade de expressão. Para todos os movimentos sociais, por moradia, por terra e por uma vida melhor. Contra o racismo, contra a homofobia. Para todas associações de bairros, partidos, anarcos, usuários, oprimidos em geral. Ligas, correntes, grupos de teatro, dança, vagabundos, grafiteiros, operários, feministas, coletivos sonoros, vítimas de enchentes, corjas de maltrapilhos e outros afins.

Para todos aqueles que condenam a brutalidade. Todas organizações, coletivos, blocos, bandos bandas que não calam diante da criminalização dos movimentos sociais e da pobreza.

Todos e todas que não suportam mais violência policial repressiva. Que não aguentam mais a caretice proibicionista que proíbe atos, festas e boemias. Que constrói rampas anti-mendingos. Que patrocina uma polícia assassina e violenta.

Que tenta calar a marcha da maconha e não coíbe os skinheads, nazistas de continuarem a agredir LGBTs, nordestinos, pretos e outras maiorias.

Que reprime trabalhadores e professores. Que aumenta o valor do transporte público. Contra a ditadura demotucana, democratizadora da infelicidade e do caos. Vinte anos no poder, sessenta anos de cacetete e bala. Basta!

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda." - Cecília Meireles

FAÇA VALER SUA LIBERDADE DE EXPRESSÃO. DIVULGUE ESTE VÍDEO."

Dilma e a "nova classe média"

Em outubro do ano passado, na disputa do segundo turno, foi grande a comoção pró-Dilma até nos círculos de esquerda. Não atingiu só os petistas de plantão. Muitos intelectuais e estudantes combativos aderiram, de forma as vezes até entusiasmada, ao voto no menos pior. Não faltaram nem os apartidários de sempre, vejam só, carregando bandeiras e adesivos pró-Dilma, ou apenas anti-Serra... Verdade seja feita, poucos entre a intelectualidade e organizações de esquerda escaparam dessa sombria confraternização, tomando a corajosa postura que tomou Chico de Oliveira, ao anunciar, na reta final da campanha, sua opinião de que o visto por muitos como menos pior, poderia ser na verdade ainda mais ruim.

Em outubro e novembro de 2010, quando Dilma entregou-se aos evangélicos rifando os direitos das mulheres, não foram poucos os que quiseram (ou fingiram) acreditar que isso era uma concessão eleitoral, que depois poderia ser diferente. Já nos primeiros embates do governo a verdade nua e crua apareceu. A presidente é a ex-guerrilheira, mas quem governa são as igrejas, as empreiteiras, os latifundiários.

Dilma, apoiada nos bastidores por Lula, cede aos conservadores, a Bolsonaro e a extrema-direita abandonando uma medida de luta contra a homofobia que em si já era praticamente cosmética. A base governista, capitaneada pelo PMDB do vice-presidente Michel Temer, se junta aos ruralistas para tornar ainda pior um já muito ruim “código florestal”. A CUT, junto com a Força Sindical, anuncia publicamente a formalização de uma aliança com a Fiesp, de palavra “em defesa da indústria”, na prática contra os trabalhadores.

A política do governo petista, incluindo os sindicatos da CUT, se desloca a direita, mas a sua base social começa lentamente a se movimentar para a esquerda. É sintomatico disso o ativismo de vanguarda na juventude, que desemboca em greves e mobilizações em universidades, ou atos mais ideológicos como os movimentos na cidade de São Paulo, contra o aumento da passagem, o churrasco da gente diferenciada, e os atos pela legalização da maconha e pela liberdade. Mais importante ainda, são as greves e revoltas que têm como epicentro a construção civil do Norte e do Nordeste, que nos casos mais explosivos como o de Jirau, os operários passaram por cima da burocracia cutista. É a nova “classe média”, mostrando sua verdadeira identidade operária e combativa, filmando e postando no youtube.

Um novo cenário político, extremamente complexo, mas bastante politizado, que pode ser aproveitado pela esquerda classista e revolucionária para ganhar algumas posições, entre os trabalhadores e a juventude, que serão valiosas no futuro.

sábado, 28 de maio de 2011

CARTA ABERTA AO PO, IS, E AS ORGANIZAÇÕES ADERENTES À FIT (CONVERGENCIA SOCIALISTA, PST-U, OPINIÃO SOCIALISTA, MIR, POR-MASAS) Fortaleçamos a frente colocando de pé comitês amplos e unitários


Partido dos Trabalhadores pelo Socialismo - PTS

26 de maio de 2011

Companheiros: é um fato que a formação da nossa Frente de Esquerda e dos Trabalhadores se converteu num fato político entusiasmente em importantes setores de trabalhadores, intelectuais e estudantes de todo o país. Pela primeira vez desde o final da ditadura em 1983, vai existir somente uma fórmula presidencial da esquerda que defende a necessidade da independência política dos trabalhadores perante os blocos capitalistas em luta.

A oposição burguesa e a centroesquerdista fazem água frente a um governo que se sustenta na coalisão da figura presidencial com a burocracia sindical e com prefeitos direitistas e governadores do PJ. Para importantes setores de trabalhadores que começam a se colocar a necessidade de superar a burocracia sindical e vêem com simpatia o “sindicalismo de base”, os novos delegados e ativistas que enfrentam essa burocracia-, a FIT começa a ser um verdadeiro sucesso. É só o ínicio de um longo caminho a percorrer.

Como já adiantamos aos companheiros da direção do PO (Partido Operário) e da IS (Esquerda Socialista) na reunião de hoje, o PTS defende que as correntes políticas que impulsionamos essa inédita Frente de Esquerda, devemos impulsionar imediatamente em todos os lugares de trabalho, estudo e bairros populares comitês de base, amplos e unitários, do FIT. Comitês nos quais participem as e os militantes do PO, do PTS e da IS e das agrupações que aderem à Frente, criando um canal para todas e todos aqueles companheiros independentes que querem aportar idéias e militância para que a FIT supere as fronteiras das nossas organizações. Temos nas mãos a possibilidade de colocar de pé uma potente força militante que supere com vantagem as forças das agrupações ligadas ao governo, com milhares de sustentados pelo Estado, para não falar das pequenas ou nulas forças militantes da oposição de direita, do centroesquerdismo K ou do pinsolanismo. Uma força militante em que surja todo tipo de iniciativa, não somente a partir de nossas próprias organizações, mas também das e dos companheiros independentes que se somarem à construção da Frente, para superar a trava proscritiva de Agosto e poder postular nossos candidatos em Outubro. Colocando de pé agora mesmo esses comitês, estamos gerando âmbitos para que flua toda a criatividade dos setores mais avançados do movimento operário e estudantil.

Neste marco, companheiros, propomos fazer eventos unitários em cada localidade, sindicato, faculdade ou escola, como atos, debates com os candidatos, atividades de difusão unitárias, grafites, lambes, projeções e todas as iniciativas que forem surgindo com cada comitê. Mãos à obra.

domingo, 22 de maio de 2011

Sobre a morte de Felipe Ramos de Paiva, estudante da USP



Por LER-QI


Sobre a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, estudante da Faculdade de Economia e Administração, o diretor do Sintusp e dirigente da LER-QI Marcelo “Pablito” declarou “Em primeiro lugar, toda solidariedade à família e aos amigos de Felipe. É uma lástima que a Universidade de São Paulo tenha virado assunto nacional não por descobertas científicas que possam ajudar a resolver os problemas estruturais do país e da população, mas justamente pelo assassinato de um jovem estudante”.

Pablito também apontou que “Toda a comunidade universitária deve se organizar para enfrentar esta situação, sem se deixar levar pelas falsas palavras da Reitoria de que se preocupa com a segurança na universidade, que tem sua guarda universitária dirigida há anos por um policial e contando com a presença de policiais em rondas, o que desmente o discurso interessado da Reitoria que agora ’se precisa da polícia’. A polícia já está na USP e, assim como na sociedade, não garante segurança, mesmo porque todos os dias ouvimos denúncias de policiais envolvidos em chacinas e roubos nas portas de bancos (saidinhas), entre outros crimes. Devemos nos posicionar contra as propostas que a própria Reitoria vem apontando, como restringir o acesso à universidade aos que têm carteirinha, colocar catracas nas Faculdades e mais uma vez a histórica tentativa de colocar a polícia, que significa mais repressão e controle social na USP e não mais segurança”.

Diana Assunção, também diretora do Sintusp e dirigente da LER-QI completou dizendo “Eles propõem estas medidas para privatizar ainda mais a universidade, pois este é o projeto do governo do Estado que, mesmo com uma crise aberta com o PSDB, continuam buscando as vias de destruir o ensino público. Nos solidarizando com os familiares e amigos, dizemos claramente que não aceitaremos mais polícia dentro da USP. Não aceitaremos a presença da polícia acusada pelo assassinato de Cícera, trabalhadora terceirizada da Faculdade de Educação que foi assassinada pela polícia na São Remo em 2007, e de tantos outros jovens, negros e pobres da periferia”.

Por fim, ambos apontaram que, desde o Sintusp, se propõem a entrar no debate nacional sobre a presença da polícia nos espaços da educação, como se abriu a partir da tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro, e que agora volta a tona com o assassinato de Felipe, assim como o próprio caráter reacionário da “polícia mais assassina do mundo”, segundo a própria ONU, que é nada mais do que um órgão repressor e de controle social do estado. Por isso apontam a necessidade dos sindicatos, da organizações de trabalhadores, de direitos humanos, do movimento estudantil, intelectuais e professores se organizarem numa ampla campanha democrática como ocorreu em 2009 quando a polícia, a pedido do ex-governador José Serra, reprimiu a greve de trabalhadores e estudantes da USP.

Asamblea Terrassa: "Hemos aprendido de la revolución en Egipto y Túnez" / 19 de mayo de 2011

Sevilla: Asamblea y acampada / 19 de mayo de 2011

Madrid: Manifestantes denuncian la manipulación de la televisión / 19 de mayo de 2011

Madrid: Primer Desalojo en la Puerta del Sol por la madrugada / 16 de mayo de 2011

Zaragoza: Manifestación de trabajadores del transporte / 18 de mayo de 2011

Saudação da LER-QI ao movimento 15-M do Estado Espanhol

Estado español: Se masifican los acampes y protestas

Mobilização de apoio aos acampamentos espanhóis em Paris

A "primavera dos povos" se espalha por todo o Mediterrâneo

Dezenas de milhares de trabalhadores e jovens em todo o Estado começamos a nos rebelar contra as consequências desta crise, contra os planos de ajuste e cortes e contra a falsa "democracia", uma "democracia" para os ricos, uma "democracia" que ninguém crê, por que sem nenhuma dissimulação estão nos mostrando que aqueles que governam são as grandes empresas e bancos, que estão refletidos nos partidos políticos, tanto no PSOE, no PP e na CIU.

Somos mais de 70 acampamentos em todo o Estado Espanhol, e seu eco se estende em vários graus na Europa, em dezenas de cidades na Itália, França, Alemanha, Portugal ... A "Primavera dos Povos", que começou na Tunísia definitivamente está atravessado o Mediterrâneo.

Não há retorno, a partir de agora teremos que seguir em frente. Vamos lutar para derrubar a sua reforma trabalhista, cortes na saúde e educação, e as suas tentativas de retorno à era do Sindicato Vertical ... A maior ofensiva contra os trabalhadores e os setores populares desde a ditadura terá que nos derrotar primeiro. Mas a nossa vontade é forte, e como os nossos avós disseram em 1936 NÃO PASSARÃO! PASSAREMOS!

Nós não queremos pagar pela sua crise. Queremos acabar com este sistema, que “oferece” um desastroso futuro aos jovens, mulheres e trabalhadores. Por isso, é necessário lutar por empregos para todos, distribuindo as horas de trabalho sem perda de remuneração, que se nacionalizem as grandes empresas sob controle dos trabalhadores, e aquelas que fecharam ou demitirem, que se exproprie todos os especuladores da habitação , acabar com a política racista das leis de imigração,nacionalizar os bancos sob controle dos trabalhadores ... Nós queremos tudo isso.

Mas esta "democracia" falsa não nos dará nada. Neste regime é governado pela mesma classe social que governou a ditadura. A sua "transição" salvou a burguesia, e nos venderam uma democracia em que todo o aparato do Estado e as grandes famílias não só sobreviveram, não só venceu a mais absoluta impunidade, como eles foram os principais vencedores. O melhor exemplo é a negação do direito de decidir para as nacionalidades e a preservação do herdeiro de Franco, como chefe de Estado, “Juan Carlos I, rei da Espanha pela graça de Franco ".

O acampamento do Sol já se concretizaram algumas demandas democráticas que saudamos, como a eliminação do Senado, a Lei dos Partidos Políticos, ou a Audiência Nacional ou o fim da monarquia. E a democracia nascida das entranhas do regime de Franco é cada vez mais questionada, os privilégios e a corrupção da casta política, a lei eleitoral bipartidária ... são completamente ilegítimas. Essas demandas, juntamente com outras contra os salvamentos bancários, em defesa dos serviços públicos, direitos de habitação, são uma excelente base para avançar.

Contra este regime, "democrático" apenas no nome, temos que impor um processo constituinte do Estado Espanhol, uma Assembléia Constituinte composta de representantes eleitos em circunscrições única (um delegado para cada certo número de habitantes), a abrir um processo onde se discuta como resolver todas as questões democráticas e todas as nossas necessidades econômicas e sociais. Mas esta saída democrática de fundo já estamos concretizando os milhares nas ruas, deveremos obtê-las pela nossa luta. Os partidos patronais e suas instituições como a Junta Eleitoral que proíbe as manifestações deste sábado, fará de tudo para não consigamos nossas demandas.

Por isso para conseguir derrotá-los temos que seguir masificando os acampamentos e fazer confluir com todos os setores em luta. Ir para institutos, universidades, bairros e, especialmente, locais de trabalho para organizar comitês e assembléias de base para ampliar e solidificar o movimento. É essencial que a classe que controla todos os fundamentos da sociedade, os trabalhadores, intervenha com seus próprios métodos para dar o "xeque-mate" ao governo, ao regime e à burguesia. Para isso nos solidarizamos e chamemos a que se somem a todos os trabalhadores que estão lutando contra fechamentos das empresas e demissões, na luta contra os cortes de saúde, e aos estudantes que estão lutando contra a mercantilização da universidade .. . A esquerda sindical e os setores populares e militantes dos majoritários também devem se juntar a esta luta. Coordenando e estendendo as lutas a todos os locais de trabalho e estudo é que conseguiremos impor uma greve geral e um Plano de Luta aos dirigentes sindicais traidores que vivem na mesa de negociação vendendo os nossos futuros.

Ampliar e fortalecer a luta em todos os setores, para empreender uma luta revolucionária para enterrar este sistema podre, é a única forma de fazer valer as reivindicações de todos os jovens e os trabalhadores.

Classe contra Classe 20 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Esquerda e centro-esquerda na Argentina e no Brasil


O surgimento, na Argentina, da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) deveria estar gerando um importante debate na esquerda brasileira. A unidade entre o PO (Partido Obrero), o PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas, integrante da FT-QI, representada no Brasil pela LER-QI), IS (Esquerda Socialista) e outras organizações para disputar as eleições argetinas (nacionais, estaduais e munipais) pode ser um importante ponto de apoio para a organização política da classe operária daquele país e do chamado “sindicalismo de base”, que tem enfrentado, a partir das assembléias e comitês de fábrica, a política da patronal, da burocracia sindical e do próprio governo Kirchner. Apesar desse importante ativismo operário anti-burocratico que surgiu nas principais concentrações operárias da Argentina, o apoio ao governo de Cristina Kirchner ainda é majoritário (vinha em níveis baixos, mas se recuperou com a morte do seu marido no ano passado). As alternativas de oposição burguesa (seja a UCR do ex-presidente De La Rua ou setores mais a direita como o prefeito de Buenos Aires Macri) vivem uma crise ainda maior do que a da oposição brasileira e suas divisões internas a impedem de ter uma candidatura unificada. Isso apesar da estabilidade política do governo ser mais débil na Argentina do que no Brasil.

O acordo das organizações de esquerda surgiu da necessidade comum de se defender de uma nova lei eleitoral proscritiva (além de outras coisas, haverão primarias em agosto e os partidos que não alcançarem um piso de 1,5% dos votos não vão poder lançar condidato nas eleições pra valer que serão em outubro), mas tem todas as condições de se tonar um ponto de apoio para uma ofensiva ideológica e organizativa da esquerda classista argentina. Apesar das importantes diferenças que separam os partidos que constituem a FIT, as principais organizações que o compõe defendem um programa de independência de classe que pode ser uma referência e uma alternativa para os trabalhadores.

As diferenças com a Frente de Esquerda que se formou em 2006 no Brasil, ou com a que não chegou a se formar em 2010, são gritantes. Na Argentina, não são todas as organizações de esquerda que estão no FIT. Outras forças que se reivindicam de esquerda, como o MST ou o PCR, se aglutinam em torno da candidatura centro-esquerdista do cineasta Pino Solanas, do Proyeto Sur. A primeira derrota desta política foi dado pelo próprio Solanas, quando esse retrocedeu e retirou a candidatura a presidência para se lançar à prefeitura. No site do PSOL, não a toa, podemos ler um artigo do MST, em que dizem que o Proyeto Sur “é a versão 'a la argentina' de uma organização de novo tipo como o PSOL no Brasil e o NPA na França. Tem algo em comum com o que foi a Frente Ampla e o PT (brasileiro) em suas origens. É uma organização anti-imperialista e inimiga dos grandes grupos econômicos, com apelo forte democrático.” Apelo democrático e anti-imperialista, nenhum apelo classista e na prática uma política de conciliação com a burguesia.

Em Buenos Aires, está selada uma aliança entre Pino Solanas e o mal chamado Partido Socialista, cujo principal referente é Hermes Binner governador do estado de Santa Fe, que fez parte das forças que apoiavam o governo De La Rua (aquele mesmo que foi derrotado pelas massas em 2001) e que a nível nacional negocia uma aliança com a UCR de Alfonsín (filho do primeiro presidente argentino pós ditadura). Em certos aspectos, o programa do Proyeto Sur defende pontos mais de esquerda que o programa defendido por Heloísa Helena em 2006, como a nacionalização das empresas privatizadas ou a convocação de uma assembléia constituinte para “reformar a constituição”. Apesar disso, como diz a organização da LIT (página 5 do seu primeiro jornal), o PSTU/Argentina: “Pino Solanas também defende os interesses dos capitalistas. A tal ponto que ainda não descartaram entrar numa frente com radicalismo (UCR). É uma variante capitalista de centroesquerda: defende o pagamento da dívida externa, dizendo que é preciso investiga-la e não pagar sua parte fraudulenta; dizem que é preciso que dar os recursos naturais aos capitalistas nacionais, e não ao controle dos trabalhadores; não luta contra a precarização, nem contra os fechamentos das fábricas.” Cada uma dessas críticas feitas a Pino Solanas poderia ser estendida, no Brasil, ao programa do PSOL, mais particularmente às posturas defendidas por Heloisa Helena e pelo MES/PSOL. A LIT precisa esclarecer a vanguarda brasileira e latino-americana sobre o por que na Argentina atua corretamente apoiando uma frente classista, rechaçando a unidade com a centro-esquerda, enquanto no Brasil, onde o PSTU tem um peso real, se nega a constituir uma frente classista, nega a filiação democrática a LER-QI e dilui suas bandeiras atrás do programa centro-esquerdista do PSOL.

Em função dessa política do PSTU, uma das grandes vantagens da configuração de forças que se apresenta nas eleições Argentinas em comparação ao que tem se dado no Brasil é que graças a unidade lograda com o FIT as forças classistas aparecerão unificadas e claramente diferenciadas das alternativas de centro esquerda. Toda a esquerda classista da América Latina deve apoiar o FIT e tirar as conseqüências para seus próprios países, se consideram que “a esquerda tem que oferecer uma opção política independente nas próximas eleições nacionais e estaduais, e não ir como apoiadora dos blocos capitalistas tradicionais, sejam esses do governo kirchnerista ou da chamada oposição, nem se diluir em uma centroesquerda cujo programa é a defesa de interesses sojeiros e industriais.” (Manifesto de intelectuais em apoio ao FIT que já conta com centenas de assinaturas)

Como disse Cristian Castilho, candidato a vice-presidente pelo FIT e militante do PTS na conferência de imprensa de lançamento do FIT, “ésta es la izquierda que va de frente contra las patronales, el gobierno, la oposición sojera y la burocracia sindical, la que ha jugado un papel relevante en las principales luchas protagonizadas por la clase trabajadora en el último período, como en ferroviarios, en Kraft, en el subte o en Zanon”.

Para uma análise mais profunda de como o PTS encara sua participação no FIT, ver, em espanhol,
UNA OPORTUNIDAD PARA LA ORGANIZACIÓN POLÍTICA DE LA VANGUARDIA OBRERA INÉDITA DESDE HACE DÉCADAS

domingo, 15 de maio de 2011

A Insurreição de Maio

O mês de maio é um marco de muitas datas do movimento operário...

Para além da data relembrada todos os anos – que diga-se de passagem, este ano no ato da Praça da Sé no 1º de maio de São Paulo um raio de sol atravessou o mormaço dos pequenos aparatos da esquerda com a confluência no Bloco José Ferreira das terceirizadas da Usp, dos militantes trotskistas da Ler-qi e de juristas como Souto Maior na luta comum contra a nova escravidão da terceirização e da precarização do trabalho – foi também em maio que teve início a Comuna de Paris. Uma data menos recordada é o maio de 1937, um marco do maior auge e do início da derrocada da Revolução Espanhola.

Uma data amarga, sobretudo para os hedeiros da política de conciliação de classes, da frente popular e do stalinismo, e também para anarquistas e revolucionários pouco consequentes de todos os tipos. Por outro lado, essa insurreição derrotada foi uma das maiores jornadas históricas do proletariado revolucionário.

A Espanha, depois do golpe fascista do general Franco em Julho de 1936, se dividiu não só territorialmente. Em Barcelona, Madrid e outras grandes cidades os trabalhadores e as massas ao enfrentar o golpe, destroçaram o estado burguês, e as suas organizações se transforam no principal poder de boa parte do país. Através da política de frente popular – a unidade entre as forças revolucionárias e burguesas democraticas para preservar a propriedade privada – o PC, o PS e os principais dirigentes anarquistas, com a ajuda, em Barcelona, do POUM, ajudaram a reconstruir o estado burguês, subordinando as juntas (conselhos de operários e camponeses) e os comitês de milicia às autoridades eleitas nas eleições do inicio do ano e ajudando a reconstituir a polícia burguesa (a Frente Popular, formada justamente pelos republicanos, pelo PC, PS, apoiada por anarquistas e poumistas tinha vencido as eleições do inicio do ano). Em Barcelona, Andrés Nin, importante dirigente operário e que havia sido colaborador de Trotsky antes de romper com este e fundar o POUM, se tona ministro da justiça e ajuda na reconstituição dos tribunais burgueses, que haviam sido substituídos por tribunais populares depois de Julho.
Enquanto segue a guerra contra Franco, uma verdadeira guerra civil se inícia no campo militar republicano. O governo da Frente Popular tentar iniciar um golpe contra os conselhos de milícias e juntas operárias, que eram quem exercia o poder de fato numa Barcelona coletivizada. Milícias do partido comunista tentam ocupar a central telefônica e uma troca de tiros se instala. Em pouco tempo a cidade se levanta em barricas, a base do POUM e dos anarquistas se soma aos operários nas barricadas. Uma vitória nesse momento decisivo poderia ter mudado o curso dos acontecimentos na Revolução Respanhola. No entanto não havia nenhuma força organizada, nem em Barcelona nem no resto da Espanha, capaz de levar a insurreição contra o governo da Frente Popular até o final.

Relembrar essa experiência nos dias de hoje é fundamental para se preparar para o futuro. O que está acontecendo no mundo árabe é só o começo e já agora essas contradições se apresentam.
Em relação à Libia, parte da esquerda apóia a intervenção da Otan, enquanto inclusive setores que se opõe a essa agressão imperialista contra o processo revolucionário, se enchem de ilusões quanto ás direções rebeldes, as mesmas que dão sinal verde para a Otan. O que a insurreição de maio de 1937 e toda a história da Revolução Espanhola nos ensinam, é que se a revolução democrática não leva ao triunfo da revolução operária e socialista ela mesma não pode vencer.

Abaixo, dois links para textos de Trotsky sobre a insurreição de maio e a revolução espanhola.

Observaciones sobre la insurrección de mayo

Lección de España: última advertencia

sábado, 14 de maio de 2011

123 anos da lei áurea: um debate sobre a luta pela segunda abolição

Nos últimos anos as organizações negras, em sua esmagadora maioria, passaram a apoiar o governo petista. A seu modo, se esforçando para não incomodar os brancos, os movimentos negros governistas tentam conquistar algum espaço nessa sociedade dominada pelos herdeiros dos senhores de engenho e traficantes de escravos. De forma tímida e gradual, o governo começou a aplicar algumas medidas favoráveis aos negros, como cotas raciais em algumas universidades federais. Pouco, muito pouco, mas suficiente para que a polêmica se instalasse, para que a elite branca se sentisse ultrajada a ter que dividir os bancos de algumas poucas faculdades com os pouquíssimos negros que lá conseguiram entrar.
Num artigo recente, o presidente da Unegro de Minas Gerais, define em poucas palavras a estratégia que determina a política desses movimentos: “há concretamente a necessidade de se fazer uma grande segunda abolição da escravatura, agora para incluir os negros na sociedade do bem-estar, através da promoção da igualdade, eliminação das teias racistas e diminuição, em rito processual, da violência contra as mulheres e os jovens”.

Retoma mais uma vez a bandeira, mil vezes vezes retomada, da luta pela segunda abolição. Historicamente, essa bandeira foi erguida pela primeira vez no interior dos movimentos negros paulistas da década de 30, que acabaram na formação do primeiro partido político negro brasileiro, a Frente Negra Brasileira, extinta pelo estado novo em 1937. Naquele momento, a frente negra demandava uma coisa simples: fazer parte, em pé de igualdade aos brancos, da nação que se formava. Décadas se passaram e a demanda não foi cumprida.

Foi com muito vagar que os negros conquistaram um direito básico de todo “cidadão” sob regime capitalista, o direito de ser explorado, isto é, o direito ao emprego. Ainda assim pela metade, já que se esse direito não é assegurado sequer a todos os brancos, muito menos seria ao conjunto do povo negro. Hoje, a realidade dos negros segue sendo perversa (ver pesquisa recentemente divulgada pelo Ipea). Em sua grande maioria ocupam os piores empregos e moram nos piores lugares, nas piores condições. Os que conseguem furar o bloqueio para se manter nas suas posições acabam se “integrando”, isto é, virando as costas para os seus irmãos de raça. Esse é o custo social da ascensão econômica para os negros.

O que explica essa situação é que a evolução do capitalismo no Brasil, atrasada sob todos os aspectos, se deu sem ruptura com o passado escravista e colonial. Dirigida e controlada pelos capitais imperialistas, essa evolução se deu através de uma sobreposição de caracteristicas históricas. Os capitais mais concentrados do planeta se favoreceram no Brasil da alta concentração da propriedade fundiária (não nos esqueçamos como a falta de uma reforma agrária está intimamente ligada a sorte que tiveram os negros libertos depois de 1888) e da extrema pobreza da população, principalmente dos negros. A situação dos trabalhadores nas obras do PAC, em sua maioria negros, mostra isso com toda a força, ao se utilizarem as empreiteiras de métodos arcaicos de contratação de mão-de-obra, o chamado gato.

Portanto a descriminação racial e o racismo dela decorrente, está do DNA do capitalismo brasileiro, controlado pela burguesia branca. Nesse sistema, o negro submisso encontra seu espaço: sempre os piores. Sua cultura pode até ser valorizada, sempre destituida de “ódio” de raça, isto é, sempre quando se mantenha submissa e festiva. Caso contrário ela combatida e banida pela burguesia. Por esses motivos, se queremos de fato levar até o final a luta pela “segunda abolição” é preciso não se contentar em ocupar e alargar os pequenos espaços que o atual governo dá aos negros. Uma verdaeira segunda abolição, que supere a farsa histórica da primeira, se iguala à luta pela derrocada do capitalismo e por um governo operário e popular. Os negros brasileiros serão chamados a estar na linha de frente dessa luta e desse futuro governo operário e popular.

Agora, isso não significa ignorar a luta imediata e cotidiana contra o racismo. Ao contrário, é através dela que os trabalhadores negros vão assumir esse papel que a história brasileira lhes reservou. Como trabalhador branco, revolucionário trotskista, não posso repetir a política da burguesia branca que quero derrotar. Não posso simplemente relegar à futura revolução a luta por problemas presentes todos os dias. Não posso esquecer que o preconceito existente no Brasil não parte só das elites brancas, mas envenena as relações inclusive no interior do próprio movimento operário. É preciso dar lugar ao negro nas organizações populares e da esquerda, levantando suas demandas especificas e estimulando sua organização no interior dos sindicatos e movimentos (indo além, obviamente, de aparatos vazios como as diretorias raciais de muitos sindicatos). È preciso travar um combate entre os próprios trabalhadores brancos, para que apoiem e lutem pelas demandas dos seus irmãos de classe negros. Esse é o caminho para que se forme um poderoso movimento negro revolucionário, capaz de questionar e desmascarar os movimento negros reformistas e governistas e ocupar seu lugar de direito à frente das lutas de todos os trabalhadores brasileiros pela sua emancipação.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A ‘insurreição das vassouras’ e o horror dos intelectuais tradicionais, ou: Quando o ‘país de classe média’ mostra sua cara

Edison Salles, publicado no blog da revista Iskra
Passaram-se já alguns dias do movimento das trabalhadoras terceirizadas da limpeza da USP, que com o apoio de estudantes, professores, juristas, e do Sintusp, conseguiram romper a rotina da Universidade e abrir os olhos, mesmo aos mais relutantes em ver, para a realidade do trabalho em condições semi-escravas que se reproduz diariamente na própria USP. Também “baixou a poeira” da rebelião dos operários da construção civil em Jirau (RO), nas obras do PAC, que terminaram punidos com demissões em massa e tiveram de voltar, aos milhares, aos seus estados de origem com uma mão na frente e outra atrás. No caso da USP, as trabalhadoras da limpadora União conseguiram uma melhor sorte: arrancaram os salários atrasados e o pagamento dos direitos trabalhistas (quase todos) pela própria Universidade.
Mas o balanço dos dois conflitos (com suas grandes diferenças entre si, já explicitadas em outros textos) não se resume ao que se conquistou em cada caso. Aliás, nem se resume, nem está aí o principal. O fato é que, por meio deles – Jirau pela própria imponência dos números envolvidos e pela violência da explosão operária espontânea; na USP, pela feliz combinação entre uma luta que soube encontrar meios para chamar a atenção de todos, e o apoio que conseguiu angariar entre os setores mais diversos – por meio deles, dizíamos, começou a ceder uma terrível barreira invisível, que esconde as condições precárias, muitas vezes subumanas, de trabalho que sustentam o mito do “país de classe média”.
Mas nem todos querem aceitar essa nova realidade. Alguns, inclusive, derramaram “lágrimas de crocodilo” após a súbita exposição da miséria cotidiana de tantos. Porém só enganariam aos que já estivessem decididos a se deixar enganar... No caso da direção da FFLCH, epicentro da aliança operário-estudantil na luta das terceirizadas, o conservadorismo da reação à luta adotou as formas mais batidas e desgastadas pelo uso... mas, afinal, como os intelectuais conservadores poderiam dispensá-las?
Sob o título capcioso de “FFLCH, manobras políticas, degradação da imagem”, a direção da FFLCH lamentou “o prejuízo à imagem desta tradicional Faculdade ao associá-la às de degradação do ambiente e à sujeira espalhada em suas dependências”.
Em seu comunicado oficial, afirmam que “a FFLCH foi alvo de repudiáveis atos predatórios, ao que tudo indica relacionados com a greve dos funcionários da empresa, que receberam apoio do SINTUSP (Sindicato dos Funcionários da USP) e de parcela reduzida de estudantes”.
É certo que são obrigados a afirmar “suas posições firmes na defesa dos direitos constitucionais democráticos e dos princípios consagrados nas convenções dos direitos humanos. Somos – docentes, alunos e funcionários -, como não poderíamos deixar de ser, solidários com as vítimas de graves violações de direitos, em especial os direitos trabalhistas”. Quem se comove com suas lágrimas, jacaré?
Mas o alvo do comunicado é dizer que “Esta posição firme e inquestionável (sic) não implica, sob qualquer hipótese, a aceitação de meios inadmissíveis para garantir direitos, que apelam para o uso ou ameaça de uso de força e de meios de ação moralmente condenados como vandalismo e depredação dos espaços públicos”. Como se a história conhecesse algum direito que não fosse arrancado pela luta, e como se alguma luta séria pudesse não adotar meios considerados “condenáveis” pelos guardiões da moral e ordem públicas!
Discurso tipicamente conservador, e inclusive ridículo: “não toleraremos que o vandalismo obscureça toda uma longa história de êxitos e de reconhecimento público”. Que coisa lamentável, ver tão sábios doutores usando uma verborragia histérica para tentar diminuir o enorme apelo emotivo e o genuíno entusiasmo que as trabalhadoras em luta causaram em amplos setores dos estudantes (e em parcela sensível da intelectualidade). Nem seria preciso dizer, mas em todo caso expliquemos para melhor desmascarar a covardia dos doutores que comandam a FFLCH: o “vandalismo” de que fazem alarde, se limitou ao singelo ato de voltar a tirar dos cestos e latas o mesmo lixo que havia sido recolhido pelas trabalhadoras antes invisíveis.
Não se escondam atrás de frases moralistas: o que lhes causa horror não é tanto o lixo no chão, mas o aroma a “controle operário da produção” que se pôde sentir naqueles dias na FFLCH – mulheres e homens trabalhadores que de repente se levantam e aprendem a usar seus meios de trabalho como meios conscientes de luta, dos quais dispõem de acordo com sua decisão coletiva e em prol dos seus justos objetivos.
No entanto, algo mais ainda deve ser dito: que esses sábios que compõem orgulhosamente a burocracia acadêmica (encabeçados pela sra. Sandra Nitrini) se aventurem em semelhante hipocrisia, isso não chega a surpreender. Afinal, não foi o próprio “guru” de tantos ali, FHC em pessoa, quem andou tentando reabilitar “o moralismo” e “a UDN”, e tudo isso de um golpe só? O que sim causa espanto é que, lamentavelmente, o mesmo discurso burocrático e conservador pôs na defensiva parte da esquerda. Inclusive parte da esquerda que festeja quando vê os trabalhadores da “classe C” entrarem no mercado de consumo... mas que parece não tolerar que esses mesmos trabalhadores resolvam se colocar de pé como verdadeiros sujeitos de suas histórias, e não mais meros “objetos” enfeitando as estatísticas oficiais.
Outra parcela foi a dos que simpatizaram com a causa, mas chegaram a pensar que “o movimento usou uma tática desastrosa”... Quando o próprio alcance e repercussão da luta mostram justamente o contrário!
Não companheiros, não esperemos os aplausos de nossos “piedosos” inimigos, não nos deixemos envolver por sua fraseologia vazia e hipócrita. As trabalhadoras da limpeza na USP abriram caminho, usando métodos legítimos e próprios da luta de classes universal, para uma verdadeira luta pelo fim do trabalho precário em condições semi-escravas; levantaram alto a bandeira da “Efetivação dos terceirizados”, na USP e em todas as grandes empresas do país, mostrando que nesse caso a garantia de que estão aptas para o trabalho está em sua própria experiência, muitas vezes de anos a fio em suas funções.
Viva a luta das trabalhadoras da limpeza da USP!
Escravidão, nunca mais!  Viva a luta de todos os trabalhadores terceirizados pela Efetivação!
Viva a aliança operário-estudantil!


domingo, 8 de maio de 2011

Em Jirau e na USP abaixo a escravidão capitalista



A revolta operária nas obras do PAC é o inicio, a retomada, da luta contra a escravidão capitalista no Brasil. Ela começou em pelo menos três estados diferentes, de forma espontânea. É uma nova subjetividade que está surgindo molecularmente, mas que começa a tomar corpo a nivel nacional, como podemos ver com as trabalhadoras da limpadora União, na USP.