segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dilma e a "nova classe média"

Em outubro do ano passado, na disputa do segundo turno, foi grande a comoção pró-Dilma até nos círculos de esquerda. Não atingiu só os petistas de plantão. Muitos intelectuais e estudantes combativos aderiram, de forma as vezes até entusiasmada, ao voto no menos pior. Não faltaram nem os apartidários de sempre, vejam só, carregando bandeiras e adesivos pró-Dilma, ou apenas anti-Serra... Verdade seja feita, poucos entre a intelectualidade e organizações de esquerda escaparam dessa sombria confraternização, tomando a corajosa postura que tomou Chico de Oliveira, ao anunciar, na reta final da campanha, sua opinião de que o visto por muitos como menos pior, poderia ser na verdade ainda mais ruim.

Em outubro e novembro de 2010, quando Dilma entregou-se aos evangélicos rifando os direitos das mulheres, não foram poucos os que quiseram (ou fingiram) acreditar que isso era uma concessão eleitoral, que depois poderia ser diferente. Já nos primeiros embates do governo a verdade nua e crua apareceu. A presidente é a ex-guerrilheira, mas quem governa são as igrejas, as empreiteiras, os latifundiários.

Dilma, apoiada nos bastidores por Lula, cede aos conservadores, a Bolsonaro e a extrema-direita abandonando uma medida de luta contra a homofobia que em si já era praticamente cosmética. A base governista, capitaneada pelo PMDB do vice-presidente Michel Temer, se junta aos ruralistas para tornar ainda pior um já muito ruim “código florestal”. A CUT, junto com a Força Sindical, anuncia publicamente a formalização de uma aliança com a Fiesp, de palavra “em defesa da indústria”, na prática contra os trabalhadores.

A política do governo petista, incluindo os sindicatos da CUT, se desloca a direita, mas a sua base social começa lentamente a se movimentar para a esquerda. É sintomatico disso o ativismo de vanguarda na juventude, que desemboca em greves e mobilizações em universidades, ou atos mais ideológicos como os movimentos na cidade de São Paulo, contra o aumento da passagem, o churrasco da gente diferenciada, e os atos pela legalização da maconha e pela liberdade. Mais importante ainda, são as greves e revoltas que têm como epicentro a construção civil do Norte e do Nordeste, que nos casos mais explosivos como o de Jirau, os operários passaram por cima da burocracia cutista. É a nova “classe média”, mostrando sua verdadeira identidade operária e combativa, filmando e postando no youtube.

Um novo cenário político, extremamente complexo, mas bastante politizado, que pode ser aproveitado pela esquerda classista e revolucionária para ganhar algumas posições, entre os trabalhadores e a juventude, que serão valiosas no futuro.

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